22 de maio de 2008

Trompete-cabeça

O homem tem um trompete na cabeça. Não na cabeça, mas no lugar dela.

Incrível, mas os pistos apertam-se sozinhos. Não é incrível?

Enfiado com a parte de soprar pra dentro da blusa, exatamente onde estaria uma cabeça, o trompete aponta pra cima quando ele está trabalhando, e o homem inclina o trompete-cabeça quando quer cochichar.

Seus conhecidos são todos magérrimos, esguios, sem roupa e sapatos ou sexo, altíssimos e de apenas olhos grandes e pretos arregalados em todo o rosto, e fazem círculo em volta e silêncio quando ele fala com entusiasmo.

Respostas

Queria poder querer procurar respostas pra comprar, daquelas rápidas, confusas e prontas pra usar.

Contato

Quando os olhares alinharam-se de maneira imprevista e profunda pela primeira vez confesso ter faltado ar. Procurei entre infinitas referências aquele algo único e especial, que deveria flutuar para ela entre os dois ou três segundos próximos, um combinado de palavras que de tão justo não haveria como substituir por nada que fosse dito com calma depois.

O não verbal da mistura de expectativas e sensações provável disse algo pela sua própria conta, de maneira imperativa, atravessando a casca até então firme.

Pessoas sabem de referências, de autores, de música, de generalidades, mas não é domínio de qualquer ser humano a faculdade de construir deliberadamente a mensagem de um contato intenso de olhos, a troca perto do sobrenatural onde é possível tocar por um instante, mesmo que com a pontinha do indicador, as águas claras das profundezas do vivo.

13 de maio de 2008

um itálico
se faz de são.
cambaleia. .. .
chega a tocar o chão. ... . ..
mas
n
ã
o

cai.



Não cai?



Não.
Nunca?
Não.

ANO ZERO

Com as poucas palavras que se espremem para sobreviver ao espaço mínimo do meu vocabulário, tento escrever.
No entanto, num misto de rejeição, vazio e maldade (aqui encarado como algo natural, próprio da natureza caótica e inconsequente de tudo o que é sensível), esssas pequenas tentativas de se manifestar não encontram refúgio, nem auto-estima suficiente para concentrar forças a ponto de esboçar ou sugerir algo que realmente valha a pena. No meu caso, que valha a tinta.
Não tenho medo de escrever bobagem - ao contrário.
Me surpreenderia se, por acaso, esse amontoado de rabiscos traduzissem o que se passa no meu estômago.
( Morte ao coração!)

Inicial

Ando neste tempo novo conhecendo, discutindo forte e falando conclusões temporárias como verdades absolutas pra pessoas que acabei de conhecer.