28 de setembro de 2009

Scrap para Potcha

ando te reclamando por aqui meu irmão

espera por tua volta apressada minha única casa, aquela que é artigo que não se imita, depois de tanto tanto tanto pouco

falta dia aqui pra criar, pelas paredes, pelos pisos, lustres, pelas portas, pelo recortinho do céu que me espia no superjardim de dentro, pedras minhas que inspiram, pois é tanto eu, tanta cara minha que tem as coisas que é como se morasse dentro de mim mesmo

veio boa e veio forte certo que pra compensar a choradeira da espera, pois sorte, sorte meu caro, sorte, sorte por aqui é mato

22 de setembro de 2009

telefonando

Noutro dia entrou numa lotérica:
- Bom dia.
- Tem cartão de 40?
- Não.
- E de 30?
- Não, só de 60. Vai levar?
- Ah.

Delírios suburbanos - parte 3

Do balcão ele continuou, e ela foi embora. Pediu mais uma cerveja, se levantou, foi até a junkbox e colocou uma moeda na máquina, escolheu as opções: Coltrane, Mariah Carey, Reginaldo Rossi e uma seleção de temas de novelas, escolheu o último. Sorriu quando a máquina começou "Quantos sonhos em sonhos acordo aterrado, A terrores noturnos minha alma se leva, É um insight soturno é o futuro passando...". Nada mais adequado. Tomando a cerveja, esperou a música acabar e saiu.
A medida que andava fugia dos seus fantasmas em formas femininas, sentia que seu passado ainda estava arraigado nas mulheres que conheceu. Um letreiro publicitário lhe chamou a atenção, era sobre viagens. Se lembrou de quando estava com uma delas no estrangeiro. A elegância do lugar e como ela se portava foi uma pedrada na cabeça. Aquilo o perturbou. Chegou em casa, subiu e logo dormiu no sofá vendo tv, alternando entre canais com anéis em mãos escarlates e pastores cinicamente exorcizantes. Achava graça de ambos, mas preferiria mesmo assistir o canal do boi. Pena.
Um lugar invernoso, inóspito, porém com sol. Ao redor algumas casa e animais que andavam em bando. Patos, e eventuais gansos. Uma paisagem estranha, uma árvore e um processo de degelo bastante próximo, questão de dias. Flores que ainda relutavam em nascer por entre as árvores desfolhadas. Mesmo ali se perguntou ao que seria apresentado, ao longe via jovens e idosos praticando tai-chi-chuan. E seus sons orientais. Ao olhar novamente em direção as casas viu uma pessoa trajada com um terno preto, em risca de giz, chapéu e um cravo na lapela. Trocando em miúdos, o lugar era a Sicília e aquele era um típico mafioso.
Ele caminhou na sua direção, um passo grave e cadenciado e lhe disse:
- Você não sabe porque está aqui, mas sabe perfeitamente o que veio saber.
- Como assim?
- Seus sonhos, você pensa realmente que eles nunca dizem absolutamente nada. Há quem diga que que eels são um prenúncio para algo futuro, que surge do nada, por algum desígnio do acaso. A questão é além, seus atos o levam aos seus sonhos, e vice-versa. No final é isso.
- Hum...

she came in through the bathroom window. (?)

abro os olhos
no doce de você

no doce
de dentro
de você

me caio
me acho
me caio me caio
me acho
me caio me caio me caio

(pausa)

carinhos
feitos
com
o
corpo
em
palma
de
mão

(pronto?)

tenta
tanto
tanto
tanto!

por hoje fico
e já toma logo pra ti
meu único e velho peito nú
pra que chore

vá!
chore
chore!
chore mais, chore de uma vez
chore o que não compensa

(pronto)

sabe que faço pouco
pois por hora
daqui
pouco posso

fecho os olhos
e deixo que se arrebente
que se arrebente você
se arrebente sobre mim

sem saber quem sou
se o são sou eu
se não é apenas “se”

enfim...
se a musica acaba,
fica muda,
mesmo assim,
não tenho motivos pra parar de dançar

o que quero
se traduz
em beijos.





Miguel.
Com leves pitadas guedeanas.

17 de setembro de 2009

Delírios suburbanos - parte 2

No momento em que saiu do carro, começou a lembrar do momento em que foi pego e levado. Se lembrava de detalhes, alguns, dentre outros, os instantes anteriores ao bar.
Uma sexta-feira a tarde acabava por andar na rua movimentada e ao dobrar uma esquina percebeu que ela vinha no sentido oposto ao seu. Uma tarde de sol, algumas nuvens esparçase e ela de óculos escuros, redondos, andando apressada. No exato instante que o viu, pegou o celular e começou a falar, fingindo. Parou e começou a andar devagar, como que não querendo. A lembrança foi instantânea tinha ele certeza, ela sabia quem ele era, e decidiu simplesmente ignorá-la. Ele olhou pra trás e sorriu debochadamente. Seguiu seu caminho, estava atrasado e queria uma cerveja.
Bem, aquilo o perturbou, porque na verdade essa lembrança o fez pensar em como conheceu a loira do bar. Por mais clichê que fosse, ela lembrava uma dessas atrizes retrô, cabelos cacheados e volumosos, alta, olhos negros e grandes e uma boca extremamente delineada. Sua personalidade era tão volátil, tão volátil quando a bebida do seu copo. No fundo, a conheceu por acaso, nesses de cinema, ou que só o cinema dramatizaria, se não fosse pelo fato dela ter como profissão o meio culinário, era a Chef num transatlântico decadente. Desses italianos, dos anos 70, com uma tripulação vacilante e viciada em anfetaminas. Dessa forma, a encontrou num dos raros momentos em terra. Tinha ido àquele bar sóbrio, o bar tinha uma sobriedade natural, quase espartana, sem frufrus e outras besteiras que compõe (exageradamente) o cenário, seja na arquitetura e na decoração. Eram mesas, cadeiras, um balcão, bebidas e a junkbox. Mais nada.
Entrou, e na junkbox tocava um antigo sucesso de John Coltrane, uma regravação de My Favourite Things. Um sax soprano primoroso numa gravação de 1961. Enfim, entrou e pediu uma cerveja. O cara do balcão no seu mudo silêncio o serviu. O único som era o da junkbox. Ainda não tinha acabado a música quando pediu a segunda.
Nesse momento, ela entrou acompanhada de um homem. Este era ligeiramente calvo, usava jeans e um moleton surrado. Tinha uma expressão marcadamente soturna, talvez maltratada, talvez maligna, talvez. Mal-humorado, com certeza. Sentaram num canto, numa mesa mais afastada. Começaram a discutir, o bar estava vazio e em pouco tempo as vozes se alteraram. Ele do balcão, ouvia tudo:
- Não vou, não me fala disso de novo que eu não vou!
- Só por uma noite! Nós precisamos disso, caso contrário, você já sabe!
- Já disse, não! E procure outra pessoa!
E ele saiu, apressado. Ela respirava ofegante, olhando desespera para os lados. Aparentemente sem saber o que fazer, depois daquilo perdeu o chão. Ficou sem ação.

16 de setembro de 2009

Ele era um louco,desses de poesia, do sorriso carregado de certezas tão furtivas, como um segredo que espera pra cair e acordar toda a vizinhança com o barulho que não cabe no teu próprio som.

15 de setembro de 2009

O carro

Numa outra ocasião, encontrou um carro. Dentro, garotas.
- E aí?
- E aí...
- Tem fogo?
- Não, fumo.
- Fogo?
- Ah.

14 de setembro de 2009

Delírios suburbanos - parte 1

Num momento estava metido numa trama fantástica que envolvia drogas, sexo e rock 'n roll. Acontece que não era só isso. Não sabia nem onde estava quando acordou, olhou em volta, tudo escuro. Tateando, conseguiu descobrir uma superfície metálica ao seu redor. Um porta-malas.
Forçou a porta tentando abrir, e nada. Nisso ouve do lado de fora um barulho de chaves se aproximando. O coração dispara, o que seria? Um sequestro? Mal se lembrou de um bar, e enquanto conversava com aquela loira, apagou. E aí já era. A porta abriu, a claridade cegou e aos poucos, antes que pudesse falar viu o gesto de uma pessoa com um capuz lhe fazendo um sinal para levantar, obecedeu e concordando foi andando. Era uma garagem com paredes brancas, o carro aonde vinha era um Galaxy preto, agora fazia sentido o tamanho do porta-malas, imenso. O do capuz lhe indicou para ir andando, à direita tinha uma porta. Entrou.
Se deu conta de que estava num motel, a julgar pela luz vermelha nas laterais da parede na parte mais alta, quase no teto, a banheira de hidromassagem e os produtos pornôs dispostos a venda ao lado da porta. Ao entrar, viu dois outros de encapuzados abrindo com uma chave phillips uma televisão da suíte, desmontando, literalmente. Havia música, no rádio tocava alguma black music que desconhecia. Música de motel. Notou que haviam retirado toda e qualquer referência que desse a entender o nome do motel e assim a localização aproximada. Tentava identificar e não conseguia, jamais havia estado ali. Sabia que não lhe aconteceria nada, caso não esboçasse qualquer resistência. Assim ficou.
Os da televisão retiravam a caixa de trás, e dentro da tv, começavam a colocar pequenos pacotes. Eram muitos pequenos pacotes. Pacotes brancos, com fita crepe, sem dúvida era cocaína. Só então, ouviu um deles:
- Quanto tempo?
- Trinta. - apontando para o relógio.
Se perguntou se era o tempo que estavam ali, o que lhe restavam no lugar, se era algo que faltava para o combinado,ou ainda se era o seu tempo de vida. No fim era isso mesmo. Tornaram a fechar a televisão e a colocaram exatamente no mesmo lugar. Tinham inclusive a foto do lugar exato da televisão para evitar que desconfiassem de algo, agiam com luvas. Aquele que lhe abriu o porta-malas fez um sinal para ele voltar, ele voltou e logo o escuro. Minutos depois ouviu as outras duas portas fecharem e uma porta grande abrindo. O carro arrancou.

13 de setembro de 2009

beijo violento


como é que é um beijo violento?

beijo violento é como estar com a cabeça embaixo de uma cachoeira

11 de setembro de 2009

O achado

Um dia ele entrou numa padaria:
- Eu vim aqui pegar meu dinheiro.
- Que dinheiro?
- O que eu perdi.
- Não tô sabendo de nada, quando foi isso?
- Em 1997.
- Ah.

10 de setembro de 2009

meu deus esqueci o que ia escrever ia escrever esqueci meu deus.

8 de setembro de 2009

Quero ser invisível.
Um, dois ou três pontos reticentes
E um segredo saindo pelos vãos da minha mão.

Não preciso ser verdadeiro
A verdade condena os sonhadores,
promete tratar nossas feridas
e no final, nem apaga a luz.

Temos tanta certeza de tudo
que tudo o que temos de certeza
é pouco, quase nada.

Tudo realmente
é incerto.Nada mais belo.

Só quero viver de arte
viver se de imaginar
qual dia vai nascer amanhã
e, seja como for, comemorar.

Por que não?
Fingir saber o próximo passo
Talvez seja o próximo passo em vão.

5 de setembro de 2009

um mapa que me olha puto e grita
preu pular
pra dentro

a poesia da noite que ainda não aconteceu
toma uma e pede
pra pular
pra fora

1 de setembro de 2009

O desdito, o maldito, o bastardo

Simplesmente não consigo entender porque as idéias pra texto me surgem no exato momento em que estou andando. Verdade, o pior é que eu penso que vou lembrar pra escrever, e logo penso "não, eu vou lembrar" e não lembro. O foda é que minha mente doentia já não consegue mais guardar as coisas por tempo longo, demasiado longo. E mesmo que sejam apenas minutos, eles se convertem em horas... E continuo sem lembrar do que era.
Agora já esqueci do que ia escrever quando comecei esse texto. Era sobre a lembrança de algo, isto é fato, mas qual seria? Se já tinha uma vontade de lembrar, isso acabou de se converter em obcessão, por querer lembrar daquilo que pensava em escrever, talvez fosse mais uma besteira, ou não, não importa, já era, essa idéia é natimorta, é a festa da menina morta.
O que eu consigo lembrar desse insight infeliz é que passava na frente do CED, ali na UFSC mesmo. Atravessei a rua, e nesse processo todo pensei em algo, talvez com toda certeza, sobre aquilo. Ou então, tinha visto alguém ou algo que sem sombra de dúvida colocou essa mente pensante alucinada a pensar na própria existência do pensar (no fundo, eu ficaria com essa). O que mais angustia é que a todo momento eu vou conseguir lembrar o que era, só que isso é tão remoto, tão impossível, quanto a possibilidade desse texto causar alguma repercussão por aqui.
No fundo nem queria saber o que tava pensando, queria mesmo era concluir meu texto com a idéia original e pronto. E não raro esse, que a falta de memória me impõe nessa 5a feira de agosto. Talvez seja essa a mesma tortura de quem ama quem nunca existiu... e que não sabe nem o nome, ou o tom exato da voz. Exagerei, mas foda-se, ainda não consegui lembrar do meu tema. Talvez nem consiga mesmo.