9 de novembro de 2012

Ensaio sobre cupidos

De repente tem uma coisa de lapidar devagar, dentro das teias quentes e embaraçadas das próprias ideias, a cada filme, foto e música, uma personagem referência. Sim, imaginar uma pessoa que não existe, e assim sem boca, sem cheiro e piscadela, sem roupa e cor de cabelo, sem voz nem memória. Não bem um pessoa, mas todas as sensações que vem dessa pessoa inexistente.

Como o prazer curioso de pressenti-la ali do lado armando alguma, a quase cósquinha da coisinha falada ao pé do ouvido, a borboleta no estômago pelo abraço aperto repentino, como em um voo noturno, onde nada se enxerga pela janela e se aparece em outro lugar; o pé ali, a mão por aqui, o cabelo batendo assim, a perna na meia luz, o quase ver a quase renda, as maciezas e asperezas, pulinho mole, calma e Caetano.

Aí a gente se distrai pelos nossos mil clubinhos de projetinhos revolucionários e viagens sub-transcendentais, quando num inesperado instantâneo, através da fresta de uma pequeneza sai um sorrisinho de alguém subitamente conhecido, batendo uma sensação tão nossa e confortável, pela qual já se está apaixonado.

Justo ao ponto, prontas as ligações, é o fim do romance com o abstrato, a que chegou agora ganha nossas próprias referências que não ajudou a construir, e pela coincidência ou conveniência toma forma, ganha nome, corpo, rosto, voz e número de telefone; sobe um negócio qualquer de nova fase justapondo sentido no universo já quase estéril, uma golfada epifânica arrebatadora de calor, o cheiro doce da nostalgia pelo que nunca aconteceu, realizando finalmente o amor em sua forma mais fundamental - o amor que a gente inventa.

27 de fevereiro de 2012

Então pido

Agora vou de pedir

Se ainda fosse de possuir

Te quereria

Ter

Só pra mim

Então pido.