Se possível, saio de casa
e encaro a rua
com um livro.
Como quem entra numa festa armado
com um cigarro na boca,
o meu livro
acendo na minha mão.
Carrego como se portasse uma senha
um bilhete,
um alvo.
E em cada balcão, mesa, chão ou mão
que meu livro se abre
quem é lido
sou sempre eu.
15 de dezembro de 2009
O sal de tuas lágrimas arde na minha ferida aberta
A minha pele que sente muito mais.
Mais do eu deveria
Mais do que poderia sentir
tempos atrás.
Agora preciso viver
Tudo o que minha pele quer.
Não serão outras peles? Não!
Só quero sentir o frio
E o calor
De transpirar meu sal que escorreu
Pra valer a dor
Que senti
Quando tive o teu.
A minha pele que sente muito mais.
Mais do eu deveria
Mais do que poderia sentir
tempos atrás.
Agora preciso viver
Tudo o que minha pele quer.
Não serão outras peles? Não!
Só quero sentir o frio
E o calor
De transpirar meu sal que escorreu
Pra valer a dor
Que senti
Quando tive o teu.
11 de dezembro de 2009
I
Cansei de escrever uma linha e apagar duas.
De pensar no que poderia vir depois.
E nunca vem.
Como um atraso silencioso
Dum trem
Que nunca ouvi passar.
E pelas pontas que já ficaram,
Com pregos tortos eu fecho a minha mão.
II
Não. Agora não.
Dessa vez a boca se encheu de pulmão:
- Só saio daqui quando eu pintar os olhos do papel de
negras
L
Á
G
R
I
MAS
e o torto borrão exposto
(caminho que a tristeza faz questão de gravar no rosto)
me fizer rimar amor com dor!
III
Já é tarde.
O papel
me responde de uma vez só (FURIOSO!!) tudo o que eu poderia escrever:
(um pálido sorriso).tudo vazio.
Nada. Nada. Nada.
-Me desculpe, não é pessoal...
É que teu vazio é tão normal...
-Me desculpe, não é, pessoal??!!!!
IV
(Penso em agressão
Em revidar o verso
Do revide que levei.)
V
Mas como, se sua palidez é fruto do meu NÃO,
Do inerte movimento da borracha
rasgando as possibilidades
desse poema
ser a minha maior criação?
Cansei de escrever uma linha e apagar duas.
De pensar no que poderia vir depois.
E nunca vem.
Como um atraso silencioso
Dum trem
Que nunca ouvi passar.
E pelas pontas que já ficaram,
Com pregos tortos eu fecho a minha mão.
II
Não. Agora não.
Dessa vez a boca se encheu de pulmão:
- Só saio daqui quando eu pintar os olhos do papel de
negras
L
Á
G
R
I
MAS
e o torto borrão exposto
(caminho que a tristeza faz questão de gravar no rosto)
me fizer rimar amor com dor!
III
Já é tarde.
O papel
me responde de uma vez só (FURIOSO!!) tudo o que eu poderia escrever:
(um pálido sorriso).tudo vazio.
Nada. Nada. Nada.
-Me desculpe, não é pessoal...
É que teu vazio é tão normal...
-Me desculpe, não é, pessoal??!!!!
IV
(Penso em agressão
Em revidar o verso
Do revide que levei.)
V
Mas como, se sua palidez é fruto do meu NÃO,
Do inerte movimento da borracha
rasgando as possibilidades
desse poema
ser a minha maior criação?
22 de novembro de 2009
O estranho edifício
Num dado momento se lembrou do lugar onde cresceu. Haviam muitas coisas que nunca entendeu pra que funcionavam. Sobretudo, em situações que se relacionavam a lugares. Observava determinadas construções que simplesmente não sabia o que tinham. Orgãos estaduais, almoxarifados, escritórios, depósitos. Pessoas que andavam nas ruas e que tinham algo a dizer, ainda que besteira, um lugar de fronteira, com uma linha bem demarcada. Mas os prédios continuavam lá.
Um desses prédios tinha no topo uma rachadura, ou melhor, na parte do canto era um buraco, na aresta. Diziam-lhe que tinha sido um raio, e ele gostaria muito de olhar aquilo de perto. Um fenômeno da natureza, aquilo lhe atraía. Ainda mais um raio. Seu pai conhecia as pessoas que trabalhavam lá. Trabalhavam não, não faziam nada! Todas as tardes eles vinham, se revezando, e conversavam a tarde toda, os mais diversos assuntos e interesses, fosse política, futebol ou religião.
O prédio era branco, com janelas pequenas, basculares. Parecia que não tinha paredes, internas. De fato não tinha. Havia uma entrada central, a direita um guichê, atrás desse mesas com coisas, cadeiras decadentes, um rádio que tocava. A esquerda uma porta maior, que servia para carga e descarga. Conhecia aquele universo de cor, salteado, ao contrário e ao inverso. O cheiro de mofo e papel velho era intenso. Por mais que lhe dissessem o que havia lá, nunca se convencia. Queria entrar lá, ver de fato o que tinha lá.
Não se lembra quando exatamente, finalmente entrou. Os funcionários do lugar nunca compreenderam ao certo o que aquele menino queria tanto saber que tinha lá dentro. Claro, eles nunca cresceram com um prédio daquele na frente de casa e nunca foram curiosos. O lugar onde pessoas estranhas vinham todos os dias com coisas mais estranhas ainda, embrulhadas quase sempre levavam e sumiam. Mas, um deles, cansado daqueles apelos incessantes, aceitou levá-lo até o alto. A construção era enorme, quadrada, de 4 andares. Passou pela grande porta a esquerda da entrada. Ela se abriu e ele sorriu. Parecia entrar em um lugar proibido e que a maioria das outras pessoas sequer sabiam o que existia. Viu enormes embrulhos redondos, altos, como bobinas de papel para alguma máquina. O funcionário que lhe acompanhava lhe dizia o tempo todo que não havia ali nada para ser olhado. Mas ele não acreditava em uma só palavra. Viu uma rampa, e subiu. Começou a correr, crente que havia ali algo mais a ser observado, além de bobinas de papel.
Um desses prédios tinha no topo uma rachadura, ou melhor, na parte do canto era um buraco, na aresta. Diziam-lhe que tinha sido um raio, e ele gostaria muito de olhar aquilo de perto. Um fenômeno da natureza, aquilo lhe atraía. Ainda mais um raio. Seu pai conhecia as pessoas que trabalhavam lá. Trabalhavam não, não faziam nada! Todas as tardes eles vinham, se revezando, e conversavam a tarde toda, os mais diversos assuntos e interesses, fosse política, futebol ou religião.
O prédio era branco, com janelas pequenas, basculares. Parecia que não tinha paredes, internas. De fato não tinha. Havia uma entrada central, a direita um guichê, atrás desse mesas com coisas, cadeiras decadentes, um rádio que tocava. A esquerda uma porta maior, que servia para carga e descarga. Conhecia aquele universo de cor, salteado, ao contrário e ao inverso. O cheiro de mofo e papel velho era intenso. Por mais que lhe dissessem o que havia lá, nunca se convencia. Queria entrar lá, ver de fato o que tinha lá.
Não se lembra quando exatamente, finalmente entrou. Os funcionários do lugar nunca compreenderam ao certo o que aquele menino queria tanto saber que tinha lá dentro. Claro, eles nunca cresceram com um prédio daquele na frente de casa e nunca foram curiosos. O lugar onde pessoas estranhas vinham todos os dias com coisas mais estranhas ainda, embrulhadas quase sempre levavam e sumiam. Mas, um deles, cansado daqueles apelos incessantes, aceitou levá-lo até o alto. A construção era enorme, quadrada, de 4 andares. Passou pela grande porta a esquerda da entrada. Ela se abriu e ele sorriu. Parecia entrar em um lugar proibido e que a maioria das outras pessoas sequer sabiam o que existia. Viu enormes embrulhos redondos, altos, como bobinas de papel para alguma máquina. O funcionário que lhe acompanhava lhe dizia o tempo todo que não havia ali nada para ser olhado. Mas ele não acreditava em uma só palavra. Viu uma rampa, e subiu. Começou a correr, crente que havia ali algo mais a ser observado, além de bobinas de papel.
30 de outubro de 2009
sossega a hora

arrasta, arrasta
arrasta hora
senta vá, calmo, espera
melhor que nem tente nada
por agora
sossega, segura, esfria-te a alma
de tanta desventura tua
escreve portanto
e vê se te acalma
arrasta, arrasta, arrasta
de
bru
çado na janela
só vejo passando
ela
na janela
onde a saudade mora
arrasta, arrasta, e arrasta
arrasta outra hora
escrevo convite
respira, coragem, é agora!
sossega, espera
deito e parece que mais demora
demora, demora
demora
sossega
demora!
sossega!
sossega a hora!
sossega
que o dia já passa
sossega
que a noite já vem
sossega
que ela
(acho)
que não
demora
29 de outubro de 2009
desa-ssossega
quanto mais demora
só mais demora
relógio anda
e arrasta, arrasta
arrasta
arrasta a hora
sem sossega
vá, venha, sacode
pois a saudade,
a saudade,
me melhora
quanto deixo
e enquanto pode
só mais demora
relógio anda
e arrasta, arrasta
arrasta
arrasta a hora
sem sossega
vá, venha, sacode
pois a saudade,
a saudade,
me melhora
quanto deixo
e enquanto pode
22 de outubro de 2009
28 de setembro de 2009
Scrap para Potcha
ando te reclamando por aqui meu irmão
espera por tua volta apressada minha única casa, aquela que é artigo que não se imita, depois de tanto tanto tanto pouco
falta dia aqui pra criar, pelas paredes, pelos pisos, lustres, pelas portas, pelo recortinho do céu que me espia no superjardim de dentro, pedras minhas que inspiram, pois é tanto eu, tanta cara minha que tem as coisas que é como se morasse dentro de mim mesmo
veio boa e veio forte certo que pra compensar a choradeira da espera, pois sorte, sorte meu caro, sorte, sorte por aqui é mato
espera por tua volta apressada minha única casa, aquela que é artigo que não se imita, depois de tanto tanto tanto pouco
falta dia aqui pra criar, pelas paredes, pelos pisos, lustres, pelas portas, pelo recortinho do céu que me espia no superjardim de dentro, pedras minhas que inspiram, pois é tanto eu, tanta cara minha que tem as coisas que é como se morasse dentro de mim mesmo
veio boa e veio forte certo que pra compensar a choradeira da espera, pois sorte, sorte meu caro, sorte, sorte por aqui é mato
22 de setembro de 2009
telefonando
Noutro dia entrou numa lotérica:
- Bom dia.
- Tem cartão de 40?
- Não.
- E de 30?
- Não, só de 60. Vai levar?
- Ah.
- Bom dia.
- Tem cartão de 40?
- Não.
- E de 30?
- Não, só de 60. Vai levar?
- Ah.
Delírios suburbanos - parte 3
Do balcão ele continuou, e ela foi embora. Pediu mais uma cerveja, se levantou, foi até a junkbox e colocou uma moeda na máquina, escolheu as opções: Coltrane, Mariah Carey, Reginaldo Rossi e uma seleção de temas de novelas, escolheu o último. Sorriu quando a máquina começou "Quantos sonhos em sonhos acordo aterrado, A terrores noturnos minha alma se leva, É um insight soturno é o futuro passando...". Nada mais adequado. Tomando a cerveja, esperou a música acabar e saiu.
A medida que andava fugia dos seus fantasmas em formas femininas, sentia que seu passado ainda estava arraigado nas mulheres que conheceu. Um letreiro publicitário lhe chamou a atenção, era sobre viagens. Se lembrou de quando estava com uma delas no estrangeiro. A elegância do lugar e como ela se portava foi uma pedrada na cabeça. Aquilo o perturbou. Chegou em casa, subiu e logo dormiu no sofá vendo tv, alternando entre canais com anéis em mãos escarlates e pastores cinicamente exorcizantes. Achava graça de ambos, mas preferiria mesmo assistir o canal do boi. Pena.
Um lugar invernoso, inóspito, porém com sol. Ao redor algumas casa e animais que andavam em bando. Patos, e eventuais gansos. Uma paisagem estranha, uma árvore e um processo de degelo bastante próximo, questão de dias. Flores que ainda relutavam em nascer por entre as árvores desfolhadas. Mesmo ali se perguntou ao que seria apresentado, ao longe via jovens e idosos praticando tai-chi-chuan. E seus sons orientais. Ao olhar novamente em direção as casas viu uma pessoa trajada com um terno preto, em risca de giz, chapéu e um cravo na lapela. Trocando em miúdos, o lugar era a Sicília e aquele era um típico mafioso.
Ele caminhou na sua direção, um passo grave e cadenciado e lhe disse:
- Você não sabe porque está aqui, mas sabe perfeitamente o que veio saber.
- Como assim?
- Seus sonhos, você pensa realmente que eles nunca dizem absolutamente nada. Há quem diga que que eels são um prenúncio para algo futuro, que surge do nada, por algum desígnio do acaso. A questão é além, seus atos o levam aos seus sonhos, e vice-versa. No final é isso.
- Hum...
A medida que andava fugia dos seus fantasmas em formas femininas, sentia que seu passado ainda estava arraigado nas mulheres que conheceu. Um letreiro publicitário lhe chamou a atenção, era sobre viagens. Se lembrou de quando estava com uma delas no estrangeiro. A elegância do lugar e como ela se portava foi uma pedrada na cabeça. Aquilo o perturbou. Chegou em casa, subiu e logo dormiu no sofá vendo tv, alternando entre canais com anéis em mãos escarlates e pastores cinicamente exorcizantes. Achava graça de ambos, mas preferiria mesmo assistir o canal do boi. Pena.
Um lugar invernoso, inóspito, porém com sol. Ao redor algumas casa e animais que andavam em bando. Patos, e eventuais gansos. Uma paisagem estranha, uma árvore e um processo de degelo bastante próximo, questão de dias. Flores que ainda relutavam em nascer por entre as árvores desfolhadas. Mesmo ali se perguntou ao que seria apresentado, ao longe via jovens e idosos praticando tai-chi-chuan. E seus sons orientais. Ao olhar novamente em direção as casas viu uma pessoa trajada com um terno preto, em risca de giz, chapéu e um cravo na lapela. Trocando em miúdos, o lugar era a Sicília e aquele era um típico mafioso.
Ele caminhou na sua direção, um passo grave e cadenciado e lhe disse:
- Você não sabe porque está aqui, mas sabe perfeitamente o que veio saber.
- Como assim?
- Seus sonhos, você pensa realmente que eles nunca dizem absolutamente nada. Há quem diga que que eels são um prenúncio para algo futuro, que surge do nada, por algum desígnio do acaso. A questão é além, seus atos o levam aos seus sonhos, e vice-versa. No final é isso.
- Hum...
she came in through the bathroom window. (?)
abro os olhos
no doce de você
no doce
de dentro
de você
me caio
me acho
me caio me caio
me acho
me caio me caio me caio
(pausa)
carinhos
feitos
com
o
corpo
em
palma
de
mão
(pronto?)
tenta
tanto
tanto
tanto!
por hoje fico
e já toma logo pra ti
meu único e velho peito nú
pra que chore
vá!
chore
chore!
chore mais, chore de uma vez
chore o que não compensa
(pronto)
sabe que faço pouco
pois por hora
daqui
pouco posso
fecho os olhos
e deixo que se arrebente
que se arrebente você
se arrebente sobre mim
sem saber quem sou
se o são sou eu
se não é apenas “se”
enfim...
se a musica acaba,
fica muda,
mesmo assim,
não tenho motivos pra parar de dançar
o que quero
se traduz
em beijos.
Miguel.
Com leves pitadas guedeanas.
no doce de você
no doce
de dentro
de você
me caio
me acho
me caio me caio
me acho
me caio me caio me caio
(pausa)
carinhos
feitos
com
o
corpo
em
palma
de
mão
(pronto?)
tenta
tanto
tanto
tanto!
por hoje fico
e já toma logo pra ti
meu único e velho peito nú
pra que chore
vá!
chore
chore!
chore mais, chore de uma vez
chore o que não compensa
(pronto)
sabe que faço pouco
pois por hora
daqui
pouco posso
fecho os olhos
e deixo que se arrebente
que se arrebente você
se arrebente sobre mim
sem saber quem sou
se o são sou eu
se não é apenas “se”
enfim...
se a musica acaba,
fica muda,
mesmo assim,
não tenho motivos pra parar de dançar
o que quero
se traduz
em beijos.
Miguel.
Com leves pitadas guedeanas.
17 de setembro de 2009
Delírios suburbanos - parte 2
No momento em que saiu do carro, começou a lembrar do momento em que foi pego e levado. Se lembrava de detalhes, alguns, dentre outros, os instantes anteriores ao bar.
Uma sexta-feira a tarde acabava por andar na rua movimentada e ao dobrar uma esquina percebeu que ela vinha no sentido oposto ao seu. Uma tarde de sol, algumas nuvens esparçase e ela de óculos escuros, redondos, andando apressada. No exato instante que o viu, pegou o celular e começou a falar, fingindo. Parou e começou a andar devagar, como que não querendo. A lembrança foi instantânea tinha ele certeza, ela sabia quem ele era, e decidiu simplesmente ignorá-la. Ele olhou pra trás e sorriu debochadamente. Seguiu seu caminho, estava atrasado e queria uma cerveja.
Bem, aquilo o perturbou, porque na verdade essa lembrança o fez pensar em como conheceu a loira do bar. Por mais clichê que fosse, ela lembrava uma dessas atrizes retrô, cabelos cacheados e volumosos, alta, olhos negros e grandes e uma boca extremamente delineada. Sua personalidade era tão volátil, tão volátil quando a bebida do seu copo. No fundo, a conheceu por acaso, nesses de cinema, ou que só o cinema dramatizaria, se não fosse pelo fato dela ter como profissão o meio culinário, era a Chef num transatlântico decadente. Desses italianos, dos anos 70, com uma tripulação vacilante e viciada em anfetaminas. Dessa forma, a encontrou num dos raros momentos em terra. Tinha ido àquele bar sóbrio, o bar tinha uma sobriedade natural, quase espartana, sem frufrus e outras besteiras que compõe (exageradamente) o cenário, seja na arquitetura e na decoração. Eram mesas, cadeiras, um balcão, bebidas e a junkbox. Mais nada.
Entrou, e na junkbox tocava um antigo sucesso de John Coltrane, uma regravação de My Favourite Things. Um sax soprano primoroso numa gravação de 1961. Enfim, entrou e pediu uma cerveja. O cara do balcão no seu mudo silêncio o serviu. O único som era o da junkbox. Ainda não tinha acabado a música quando pediu a segunda.
Nesse momento, ela entrou acompanhada de um homem. Este era ligeiramente calvo, usava jeans e um moleton surrado. Tinha uma expressão marcadamente soturna, talvez maltratada, talvez maligna, talvez. Mal-humorado, com certeza. Sentaram num canto, numa mesa mais afastada. Começaram a discutir, o bar estava vazio e em pouco tempo as vozes se alteraram. Ele do balcão, ouvia tudo:
- Não vou, não me fala disso de novo que eu não vou!
- Só por uma noite! Nós precisamos disso, caso contrário, você já sabe!
- Já disse, não! E procure outra pessoa!
E ele saiu, apressado. Ela respirava ofegante, olhando desespera para os lados. Aparentemente sem saber o que fazer, depois daquilo perdeu o chão. Ficou sem ação.
Uma sexta-feira a tarde acabava por andar na rua movimentada e ao dobrar uma esquina percebeu que ela vinha no sentido oposto ao seu. Uma tarde de sol, algumas nuvens esparçase e ela de óculos escuros, redondos, andando apressada. No exato instante que o viu, pegou o celular e começou a falar, fingindo. Parou e começou a andar devagar, como que não querendo. A lembrança foi instantânea tinha ele certeza, ela sabia quem ele era, e decidiu simplesmente ignorá-la. Ele olhou pra trás e sorriu debochadamente. Seguiu seu caminho, estava atrasado e queria uma cerveja.
Bem, aquilo o perturbou, porque na verdade essa lembrança o fez pensar em como conheceu a loira do bar. Por mais clichê que fosse, ela lembrava uma dessas atrizes retrô, cabelos cacheados e volumosos, alta, olhos negros e grandes e uma boca extremamente delineada. Sua personalidade era tão volátil, tão volátil quando a bebida do seu copo. No fundo, a conheceu por acaso, nesses de cinema, ou que só o cinema dramatizaria, se não fosse pelo fato dela ter como profissão o meio culinário, era a Chef num transatlântico decadente. Desses italianos, dos anos 70, com uma tripulação vacilante e viciada em anfetaminas. Dessa forma, a encontrou num dos raros momentos em terra. Tinha ido àquele bar sóbrio, o bar tinha uma sobriedade natural, quase espartana, sem frufrus e outras besteiras que compõe (exageradamente) o cenário, seja na arquitetura e na decoração. Eram mesas, cadeiras, um balcão, bebidas e a junkbox. Mais nada.
Entrou, e na junkbox tocava um antigo sucesso de John Coltrane, uma regravação de My Favourite Things. Um sax soprano primoroso numa gravação de 1961. Enfim, entrou e pediu uma cerveja. O cara do balcão no seu mudo silêncio o serviu. O único som era o da junkbox. Ainda não tinha acabado a música quando pediu a segunda.
Nesse momento, ela entrou acompanhada de um homem. Este era ligeiramente calvo, usava jeans e um moleton surrado. Tinha uma expressão marcadamente soturna, talvez maltratada, talvez maligna, talvez. Mal-humorado, com certeza. Sentaram num canto, numa mesa mais afastada. Começaram a discutir, o bar estava vazio e em pouco tempo as vozes se alteraram. Ele do balcão, ouvia tudo:
- Não vou, não me fala disso de novo que eu não vou!
- Só por uma noite! Nós precisamos disso, caso contrário, você já sabe!
- Já disse, não! E procure outra pessoa!
E ele saiu, apressado. Ela respirava ofegante, olhando desespera para os lados. Aparentemente sem saber o que fazer, depois daquilo perdeu o chão. Ficou sem ação.
16 de setembro de 2009
15 de setembro de 2009
O carro
Numa outra ocasião, encontrou um carro. Dentro, garotas.
- E aí?
- E aí...
- Tem fogo?
- Não, fumo.
- Fogo?
- Ah.
- E aí?
- E aí...
- Tem fogo?
- Não, fumo.
- Fogo?
- Ah.
14 de setembro de 2009
Delírios suburbanos - parte 1
Num momento estava metido numa trama fantástica que envolvia drogas, sexo e rock 'n roll. Acontece que não era só isso. Não sabia nem onde estava quando acordou, olhou em volta, tudo escuro. Tateando, conseguiu descobrir uma superfície metálica ao seu redor. Um porta-malas.
Forçou a porta tentando abrir, e nada. Nisso ouve do lado de fora um barulho de chaves se aproximando. O coração dispara, o que seria? Um sequestro? Mal se lembrou de um bar, e enquanto conversava com aquela loira, apagou. E aí já era. A porta abriu, a claridade cegou e aos poucos, antes que pudesse falar viu o gesto de uma pessoa com um capuz lhe fazendo um sinal para levantar, obecedeu e concordando foi andando. Era uma garagem com paredes brancas, o carro aonde vinha era um Galaxy preto, agora fazia sentido o tamanho do porta-malas, imenso. O do capuz lhe indicou para ir andando, à direita tinha uma porta. Entrou.
Se deu conta de que estava num motel, a julgar pela luz vermelha nas laterais da parede na parte mais alta, quase no teto, a banheira de hidromassagem e os produtos pornôs dispostos a venda ao lado da porta. Ao entrar, viu dois outros de encapuzados abrindo com uma chave phillips uma televisão da suíte, desmontando, literalmente. Havia música, no rádio tocava alguma black music que desconhecia. Música de motel. Notou que haviam retirado toda e qualquer referência que desse a entender o nome do motel e assim a localização aproximada. Tentava identificar e não conseguia, jamais havia estado ali. Sabia que não lhe aconteceria nada, caso não esboçasse qualquer resistência. Assim ficou.
Os da televisão retiravam a caixa de trás, e dentro da tv, começavam a colocar pequenos pacotes. Eram muitos pequenos pacotes. Pacotes brancos, com fita crepe, sem dúvida era cocaína. Só então, ouviu um deles:
- Quanto tempo?
- Trinta. - apontando para o relógio.
Se perguntou se era o tempo que estavam ali, o que lhe restavam no lugar, se era algo que faltava para o combinado,ou ainda se era o seu tempo de vida. No fim era isso mesmo. Tornaram a fechar a televisão e a colocaram exatamente no mesmo lugar. Tinham inclusive a foto do lugar exato da televisão para evitar que desconfiassem de algo, agiam com luvas. Aquele que lhe abriu o porta-malas fez um sinal para ele voltar, ele voltou e logo o escuro. Minutos depois ouviu as outras duas portas fecharem e uma porta grande abrindo. O carro arrancou.
Forçou a porta tentando abrir, e nada. Nisso ouve do lado de fora um barulho de chaves se aproximando. O coração dispara, o que seria? Um sequestro? Mal se lembrou de um bar, e enquanto conversava com aquela loira, apagou. E aí já era. A porta abriu, a claridade cegou e aos poucos, antes que pudesse falar viu o gesto de uma pessoa com um capuz lhe fazendo um sinal para levantar, obecedeu e concordando foi andando. Era uma garagem com paredes brancas, o carro aonde vinha era um Galaxy preto, agora fazia sentido o tamanho do porta-malas, imenso. O do capuz lhe indicou para ir andando, à direita tinha uma porta. Entrou.
Se deu conta de que estava num motel, a julgar pela luz vermelha nas laterais da parede na parte mais alta, quase no teto, a banheira de hidromassagem e os produtos pornôs dispostos a venda ao lado da porta. Ao entrar, viu dois outros de encapuzados abrindo com uma chave phillips uma televisão da suíte, desmontando, literalmente. Havia música, no rádio tocava alguma black music que desconhecia. Música de motel. Notou que haviam retirado toda e qualquer referência que desse a entender o nome do motel e assim a localização aproximada. Tentava identificar e não conseguia, jamais havia estado ali. Sabia que não lhe aconteceria nada, caso não esboçasse qualquer resistência. Assim ficou.
Os da televisão retiravam a caixa de trás, e dentro da tv, começavam a colocar pequenos pacotes. Eram muitos pequenos pacotes. Pacotes brancos, com fita crepe, sem dúvida era cocaína. Só então, ouviu um deles:
- Quanto tempo?
- Trinta. - apontando para o relógio.
Se perguntou se era o tempo que estavam ali, o que lhe restavam no lugar, se era algo que faltava para o combinado,ou ainda se era o seu tempo de vida. No fim era isso mesmo. Tornaram a fechar a televisão e a colocaram exatamente no mesmo lugar. Tinham inclusive a foto do lugar exato da televisão para evitar que desconfiassem de algo, agiam com luvas. Aquele que lhe abriu o porta-malas fez um sinal para ele voltar, ele voltou e logo o escuro. Minutos depois ouviu as outras duas portas fecharem e uma porta grande abrindo. O carro arrancou.
13 de setembro de 2009
11 de setembro de 2009
O achado
Um dia ele entrou numa padaria:
- Eu vim aqui pegar meu dinheiro.
- Que dinheiro?
- O que eu perdi.
- Não tô sabendo de nada, quando foi isso?
- Em 1997.
- Ah.
- Eu vim aqui pegar meu dinheiro.
- Que dinheiro?
- O que eu perdi.
- Não tô sabendo de nada, quando foi isso?
- Em 1997.
- Ah.
8 de setembro de 2009
Quero ser invisível.
Um, dois ou três pontos reticentes
E um segredo saindo pelos vãos da minha mão.
Não preciso ser verdadeiro
A verdade condena os sonhadores,
promete tratar nossas feridas
e no final, nem apaga a luz.
Temos tanta certeza de tudo
que tudo o que temos de certeza
é pouco, quase nada.
Tudo realmente
é incerto.Nada mais belo.
Só quero viver de arte
viver se de imaginar
qual dia vai nascer amanhã
e, seja como for, comemorar.
Por que não?
Fingir saber o próximo passo
Talvez seja o próximo passo em vão.
Um, dois ou três pontos reticentes
E um segredo saindo pelos vãos da minha mão.
Não preciso ser verdadeiro
A verdade condena os sonhadores,
promete tratar nossas feridas
e no final, nem apaga a luz.
Temos tanta certeza de tudo
que tudo o que temos de certeza
é pouco, quase nada.
Tudo realmente
é incerto.Nada mais belo.
Só quero viver de arte
viver se de imaginar
qual dia vai nascer amanhã
e, seja como for, comemorar.
Por que não?
Fingir saber o próximo passo
Talvez seja o próximo passo em vão.
5 de setembro de 2009
1 de setembro de 2009
O desdito, o maldito, o bastardo
Simplesmente não consigo entender porque as idéias pra texto me surgem no exato momento em que estou andando. Verdade, o pior é que eu penso que vou lembrar pra escrever, e logo penso "não, eu vou lembrar" e não lembro. O foda é que minha mente doentia já não consegue mais guardar as coisas por tempo longo, demasiado longo. E mesmo que sejam apenas minutos, eles se convertem em horas... E continuo sem lembrar do que era.
Agora já esqueci do que ia escrever quando comecei esse texto. Era sobre a lembrança de algo, isto é fato, mas qual seria? Se já tinha uma vontade de lembrar, isso acabou de se converter em obcessão, por querer lembrar daquilo que pensava em escrever, talvez fosse mais uma besteira, ou não, não importa, já era, essa idéia é natimorta, é a festa da menina morta.
O que eu consigo lembrar desse insight infeliz é que passava na frente do CED, ali na UFSC mesmo. Atravessei a rua, e nesse processo todo pensei em algo, talvez com toda certeza, sobre aquilo. Ou então, tinha visto alguém ou algo que sem sombra de dúvida colocou essa mente pensante alucinada a pensar na própria existência do pensar (no fundo, eu ficaria com essa). O que mais angustia é que a todo momento eu vou conseguir lembrar o que era, só que isso é tão remoto, tão impossível, quanto a possibilidade desse texto causar alguma repercussão por aqui.
No fundo nem queria saber o que tava pensando, queria mesmo era concluir meu texto com a idéia original e pronto. E não raro esse, que a falta de memória me impõe nessa 5a feira de agosto. Talvez seja essa a mesma tortura de quem ama quem nunca existiu... e que não sabe nem o nome, ou o tom exato da voz. Exagerei, mas foda-se, ainda não consegui lembrar do meu tema. Talvez nem consiga mesmo.
Agora já esqueci do que ia escrever quando comecei esse texto. Era sobre a lembrança de algo, isto é fato, mas qual seria? Se já tinha uma vontade de lembrar, isso acabou de se converter em obcessão, por querer lembrar daquilo que pensava em escrever, talvez fosse mais uma besteira, ou não, não importa, já era, essa idéia é natimorta, é a festa da menina morta.
O que eu consigo lembrar desse insight infeliz é que passava na frente do CED, ali na UFSC mesmo. Atravessei a rua, e nesse processo todo pensei em algo, talvez com toda certeza, sobre aquilo. Ou então, tinha visto alguém ou algo que sem sombra de dúvida colocou essa mente pensante alucinada a pensar na própria existência do pensar (no fundo, eu ficaria com essa). O que mais angustia é que a todo momento eu vou conseguir lembrar o que era, só que isso é tão remoto, tão impossível, quanto a possibilidade desse texto causar alguma repercussão por aqui.
No fundo nem queria saber o que tava pensando, queria mesmo era concluir meu texto com a idéia original e pronto. E não raro esse, que a falta de memória me impõe nessa 5a feira de agosto. Talvez seja essa a mesma tortura de quem ama quem nunca existiu... e que não sabe nem o nome, ou o tom exato da voz. Exagerei, mas foda-se, ainda não consegui lembrar do meu tema. Talvez nem consiga mesmo.
10 de agosto de 2009
Será?
O que será verdade neste mundo de mentiras?
Será que o amor é de verdade, quando só existe mentiras?
Será que o amor é de mentira, quando só existe verdades?
Será que o amor é verdade e mentira?
Ou será essa mistura a verdade do amor.
Será que amar é soltar, quando a vontade é prender?
Ou será prender quando a vontade é soltar?
O amor é prisão ou ilusão?
Prisão é a ilusão do amor?
Ou amor é a prisão do amor?
O amor preso não consegue viver,
O amor solto consegue amar?
Por Alcione dos Santos Fernandes Costa
Será que o amor é de verdade, quando só existe mentiras?
Será que o amor é de mentira, quando só existe verdades?
Será que o amor é verdade e mentira?
Ou será essa mistura a verdade do amor.
Será que amar é soltar, quando a vontade é prender?
Ou será prender quando a vontade é soltar?
O amor é prisão ou ilusão?
Prisão é a ilusão do amor?
Ou amor é a prisão do amor?
O amor preso não consegue viver,
O amor solto consegue amar?
Por Alcione dos Santos Fernandes Costa
A Ordem dos Templários – Legião Urbana
Tum Tum
Panum ni
Pananim
Num num
Tum Tum
Panum ni
Pananim
Num num
Tum Tum Tum
Fraaaaannnnn!!!!!
Pá
(Fan fan fim)
Tum Tum pá
(fan fan fim)
Tunana
tunana
Pim pim
Pinin
Num nanan
Pim pom pim pom pan pan
Pum pim pim pom pom pom
Pim pom pum pã
Pin nim nam nam nammmm nam
Nem nem nem na...
Pim
Pum pim pim pom pom pom
Pum pim pim pom pom pom
Pan
Pan
Pim
Pim
Pom
Pim
Tan tan
Pimpompimpom
(repetir 3 x)
Tum Tum
Panum ni
Pananim
Num num
Tum Tum
Panum ni
Pananim
Num num
Tum Tum Tum
Fraaaaannnnn!!!!!
Pá
(Fan fan fim)
Tum Tum pá
(fan fan fim)
Tunana
tunana
Pim pim
Pinin
Num nanan
Pim pom pim pom pan pan
Pum pim pim pom pom pom
Pim pom pum pã
Pin nim nam nam nammmm nam
Nem nem nem na...
Pim
Pum pim pim pom pom pom
Pum pim pim pom pom pom
Pan
Pan
Pim
Pim
Pom
Pim
Tan tan
Pimpompimpom
(repetir 3 x)
6 de agosto de 2009
Entre janelas num fim de tarde de chuva
Após muito tempo tornou àquele lugar, e nesse exato momento contemplava, de um jeito um tanto irônico, a chuva que caía. No fundo procurava esquecer seus problemas e buscar uma quietude natural ao meio. Era agradável assistir a chuva, ainda que longe de casa, mas sentia muita falta de certas coisas que não tinha posse e tampouco podia dominar como algo palpável. Lidava com suas emoções mais profundas, aqueles que aparecia confinada no seu íntimo e que, nos últimos tempos era extremamente fácil de lidar.
Já não tinha paciência para certas coisas, de modo que, o que lhe restava era somente um desprezo involuntário por tudo aquilo estabelecido. Não se configurava em nenhum momento naquilo posto como natural, ou naturalizante. Achava ainda que era necessário romper com tudo aquilo, a partir do próprio meio, com as ferramantas fornecidas e que seriam, naquele momento, as únicas disponíveis. Escrever era uma delas.
Saiu da sala quando a chuva já engrossava, as gotas de chuva pareciam mais pesadas. Não o sentia porque prefiriu sentar e continuar a observar, desejando, mais do que qualquer coisa, um mp3 e um cigarro. Aquela visão do cinza lhe atraía, sobretudo os tons de branco, ou quieto. O branco tem essa poder, inspira paz, inspira o silêncio, inspira tudo aquilo que buscava de algum jeito. Via uma mensagem naquilo tudo, um lembrete ao que viera e buscava. Tem algum objetivo em mente, de um jeito de tentar chegar ao ponto comum.
Voltando à chuva, sentia que essa quietude era uma das poucas coisas que faziam as pessoas pararem, ou pelo menos tentando fazer parar. As vezes trágicamente, a chuva era antes água e a água quando represada adquire uma força incrível quando enfim livre. Besteira, já tinham escrito isso muitas vezes, essa metáfora da água era por demais manjada, clichê, palha. No fundo, o que desejava com aquela chuva, vendo aquela chuva, era a certeza, um tanto idealizada, de conseguir ir aonde queria, quando queria. Naquele momento ouviu os pássaros, quero-queros. Pensou nesses animais que territorialmente se defendem. Mas que podiam ir aonde queriam, talvez até voavam. Males da modernidade: o virtual é mais palpável ao nosso cotidiano do que o simples fato de perceber o que se passa na natureza ao redor.
Nesse momento concluiu, satisfeito, que tinha a incrível capacidade daqueles dias assolados pela cegueira da visão, do excesso de luz que cega implacavelmente e que nos impede de perceber o que se passa ao redor. De repente, as luzes se acenderam, e o tom de cinza do céu de chuva dava lugar ao azul escuro da noite. Tentativas de lusco-fusco em pleno inverno inter-tropical. E permaneceu, ainda perplexo, com a bizarra conclusão de que não precisava, naquele momento, daquelas coisas que mais desejava.
Já não tinha paciência para certas coisas, de modo que, o que lhe restava era somente um desprezo involuntário por tudo aquilo estabelecido. Não se configurava em nenhum momento naquilo posto como natural, ou naturalizante. Achava ainda que era necessário romper com tudo aquilo, a partir do próprio meio, com as ferramantas fornecidas e que seriam, naquele momento, as únicas disponíveis. Escrever era uma delas.
Saiu da sala quando a chuva já engrossava, as gotas de chuva pareciam mais pesadas. Não o sentia porque prefiriu sentar e continuar a observar, desejando, mais do que qualquer coisa, um mp3 e um cigarro. Aquela visão do cinza lhe atraía, sobretudo os tons de branco, ou quieto. O branco tem essa poder, inspira paz, inspira o silêncio, inspira tudo aquilo que buscava de algum jeito. Via uma mensagem naquilo tudo, um lembrete ao que viera e buscava. Tem algum objetivo em mente, de um jeito de tentar chegar ao ponto comum.
Voltando à chuva, sentia que essa quietude era uma das poucas coisas que faziam as pessoas pararem, ou pelo menos tentando fazer parar. As vezes trágicamente, a chuva era antes água e a água quando represada adquire uma força incrível quando enfim livre. Besteira, já tinham escrito isso muitas vezes, essa metáfora da água era por demais manjada, clichê, palha. No fundo, o que desejava com aquela chuva, vendo aquela chuva, era a certeza, um tanto idealizada, de conseguir ir aonde queria, quando queria. Naquele momento ouviu os pássaros, quero-queros. Pensou nesses animais que territorialmente se defendem. Mas que podiam ir aonde queriam, talvez até voavam. Males da modernidade: o virtual é mais palpável ao nosso cotidiano do que o simples fato de perceber o que se passa na natureza ao redor.
Nesse momento concluiu, satisfeito, que tinha a incrível capacidade daqueles dias assolados pela cegueira da visão, do excesso de luz que cega implacavelmente e que nos impede de perceber o que se passa ao redor. De repente, as luzes se acenderam, e o tom de cinza do céu de chuva dava lugar ao azul escuro da noite. Tentativas de lusco-fusco em pleno inverno inter-tropical. E permaneceu, ainda perplexo, com a bizarra conclusão de que não precisava, naquele momento, daquelas coisas que mais desejava.
23 de julho de 2009
Gota a gota, saudade
Melodias, cerveja, boteco
Lágrimas, severas escorrem
Lua, estrela, noite escura
Solidão, saudade, tristeza.
As lembranças voltam a memória
banho, perfume, lingerie
E a lucidez some, perfumada com a
peça íntima da cor que ele gosta.
É impossível ser sensata neste momento.
Momento que sinto sua mão descendo minha peça.
Pé no chão, olhos abertos, saudade.
Boteco,cerveja, melodias.
Violeiros, poetas, cantorias.
Olhos fechados, o corpo fica, a alma voa. Corre, corre.
Pára, escuta meu coração bate forte, chora, saudade.
Cerveja, boteco, melodias
Vontadede estar nos seus braços de me sentir mulher
Afogo a saudade neste copo e mesmo assim não tenho
teu corpo
saudade...cerveja
Sinto que o efeito já se faz, sua imagem não some.
Mais cerveja?Não.
Não adianta a saudade fica, as lembranças não se apagam.
Pé no chão, fica pé, fica!!
Ele partiu
Boteco, melodias, mais cerveja.
Mais cerveja, boteco, mais melodias
Lembrar eu posso, sentir saudades eu posso,
sentir vontade, eu posso.
Eu posso tudo que me coração sente ,
pois minha cabeça não comanda meu coração
- Ó coração tenha pena da minha alma
- Não. Não posso, sinto falta dele.
Alcione dos Santos Fernandes Costa
Lágrimas, severas escorrem
Lua, estrela, noite escura
Solidão, saudade, tristeza.
As lembranças voltam a memória
banho, perfume, lingerie
E a lucidez some, perfumada com a
peça íntima da cor que ele gosta.
É impossível ser sensata neste momento.
Momento que sinto sua mão descendo minha peça.
Pé no chão, olhos abertos, saudade.
Boteco,cerveja, melodias.
Violeiros, poetas, cantorias.
Olhos fechados, o corpo fica, a alma voa. Corre, corre.
Pára, escuta meu coração bate forte, chora, saudade.
Cerveja, boteco, melodias
Vontadede estar nos seus braços de me sentir mulher
Afogo a saudade neste copo e mesmo assim não tenho
teu corpo
saudade...cerveja
Sinto que o efeito já se faz, sua imagem não some.
Mais cerveja?Não.
Não adianta a saudade fica, as lembranças não se apagam.
Pé no chão, fica pé, fica!!
Ele partiu
Boteco, melodias, mais cerveja.
Mais cerveja, boteco, mais melodias
Lembrar eu posso, sentir saudades eu posso,
sentir vontade, eu posso.
Eu posso tudo que me coração sente ,
pois minha cabeça não comanda meu coração
- Ó coração tenha pena da minha alma
- Não. Não posso, sinto falta dele.
Alcione dos Santos Fernandes Costa
21 de julho de 2009
14 de julho de 2009
De certo modo
"Dizia que se fazia o que se não dizia
tampouco se dividia ao dizer o que não fazia
mas que ainda assim deixaria o que jamais faria"
Acho que de certo modo, ainda dizem que a estética é o que rege todas as coisas. No fundo talvez seja razão, ou talvez um motivo para continuar a escrever. Mesmo assim, desse jeito um tranto troncho de escrever talvez saiam as pseudo-nadas de pseudo-tudo, quiçá fontes de inspiração ocultas, mantras secretos e revelações ainda não descobertas por aqueles que deveriam revelar.
Andshebuyinginthestairwaytoheaven.
tampouco se dividia ao dizer o que não fazia
mas que ainda assim deixaria o que jamais faria"
Acho que de certo modo, ainda dizem que a estética é o que rege todas as coisas. No fundo talvez seja razão, ou talvez um motivo para continuar a escrever. Mesmo assim, desse jeito um tranto troncho de escrever talvez saiam as pseudo-nadas de pseudo-tudo, quiçá fontes de inspiração ocultas, mantras secretos e revelações ainda não descobertas por aqueles que deveriam revelar.
Andshebuyinginthestairwaytoheaven.
Daqui sinto o cheiro de borracha
o freio queimado
que quase arrebentou
de alguém
que quase pulou.
mas lá, no ultimo passo...
ainda carrega como tatuagem
aquele “quase” feito cruz,
e a cegueira de momento,
como o grito seco
implora pra fechar a fresta
na ultima porta
no castelo dos destinos cruzados
tão cheio de ventos carregados de ventos
insistentes em te abrir.
o freio queimado
que quase arrebentou
de alguém
que quase pulou.
mas lá, no ultimo passo...
ainda carrega como tatuagem
aquele “quase” feito cruz,
e a cegueira de momento,
como o grito seco
implora pra fechar a fresta
na ultima porta
no castelo dos destinos cruzados
tão cheio de ventos carregados de ventos
insistentes em te abrir.
13 de julho de 2009
hiato criativo
um hiato criativo é como não conseguir gritar mesmo fugindo de um lobo aborrecido num chão de madeira muito encerado calçando só meias
12 de julho de 2009
Mientras ella iba...
Llegué, pero nada dije. Un largo silencio se ha establecido hasta que ella miróme y dije:
- y ahora?
Sin reacción, miré para bajo, y ella volvió a hablar:
- que quieres tu que pensé yo de todo eso?
En aquel instante cortito percibí que lo existía si, de facto, una referencia, un sentido para aquella charla que otrora amable se hay ido. Y memorando me de aquello que un día había sido, y donde venia toda la tristeza de su ojos...
Ella se fue, sin reacción cualquiera. De mi sueños tenia ahora la memoria, lo recuerdo del legado, único legado cierto, de ya posarla, en algún momento de mi vida. Eso carcomía me, incomodaba me, pero no fue aislado. Mientras ella ya, percibía yo la inmensa voluntad de volver, pero no tornó ella a mirarme, simplemente se iba, caminando y de un caminar tan compasado, daba me la certeza que no estaba tan tranquila cuanto parecía.
Sentí una súbita voluntad de correr y abrázala, pero no podría, no tenía alguna moral para decir le o que pensaba yo acerca de ella. Sentí me en un gran vacío, al pensar eso. Ella caminaba, y caminaba. En un paso muy largo, hacia lo camino por demás tortuoso en mi memorias, mi recuerdos. Y todo se ha ido, simplemente lo fue. No tenía más nada a hacer. Fue traído cuando en fin despierto...
- y ahora?
Sin reacción, miré para bajo, y ella volvió a hablar:
- que quieres tu que pensé yo de todo eso?
En aquel instante cortito percibí que lo existía si, de facto, una referencia, un sentido para aquella charla que otrora amable se hay ido. Y memorando me de aquello que un día había sido, y donde venia toda la tristeza de su ojos...
Ella se fue, sin reacción cualquiera. De mi sueños tenia ahora la memoria, lo recuerdo del legado, único legado cierto, de ya posarla, en algún momento de mi vida. Eso carcomía me, incomodaba me, pero no fue aislado. Mientras ella ya, percibía yo la inmensa voluntad de volver, pero no tornó ella a mirarme, simplemente se iba, caminando y de un caminar tan compasado, daba me la certeza que no estaba tan tranquila cuanto parecía.
Sentí una súbita voluntad de correr y abrázala, pero no podría, no tenía alguna moral para decir le o que pensaba yo acerca de ella. Sentí me en un gran vacío, al pensar eso. Ella caminaba, y caminaba. En un paso muy largo, hacia lo camino por demás tortuoso en mi memorias, mi recuerdos. Y todo se ha ido, simplemente lo fue. No tenía más nada a hacer. Fue traído cuando en fin despierto...
9 de julho de 2009
Valer a pena
Valer a pena
É não querer só porquê se quer
É ter mais medo
De atrasar, da barriga, até do olhar
Do bonito, forte e fundo olhar da mulher
É quando compensa
De longe
O conforto egoísta da descrença
É quando queima
Quando se sorri
Da birra
Da groselha
Da teima
É um desencontro bom
É macio
É um viver inteiro
É viver completo
Viver porquê se quer
Atrás dos caprichos de uma única e rara mulher
Pois se enrolar portanto, se consumir
Se perder de sorrir, se morrer a procurar
Encantos nos cantos dos seus quês e talvezes
Como um amor
Como nos amores
Que não têm
E nunca vão
Dar pé
É não querer só porquê se quer
É ter mais medo
De atrasar, da barriga, até do olhar
Do bonito, forte e fundo olhar da mulher
É quando compensa
De longe
O conforto egoísta da descrença
É quando queima
Quando se sorri
Da birra
Da groselha
Da teima
É um desencontro bom
É macio
É um viver inteiro
É viver completo
Viver porquê se quer
Atrás dos caprichos de uma única e rara mulher
Pois se enrolar portanto, se consumir
Se perder de sorrir, se morrer a procurar
Encantos nos cantos dos seus quês e talvezes
Como um amor
Como nos amores
Que não têm
E nunca vão
Dar pé
6 de julho de 2009
Mojito

"Aperte bem o hortelã em suas mãos, pois pra ficar bom o mojito tem que amassar as folhas com o açúcar e o limão."
5 de julho de 2009
2 de julho de 2009
amarelo
eu
amarelo
anemico
atonico
amarelo de tao atonico
tonto de tao calmo, feliz de tao estupido
amarelo de tao anemico
anemico
atonico
amarelo
eu
amarelo
anemico
atonico
amarelo de tao atonico
tonto de tao calmo, feliz de tao estupido
amarelo de tao anemico
anemico
atonico
amarelo
eu
24 de junho de 2009
Insônia...
Dormir, era o que ele queria. Porém ouvia latidos a distância, ininterruptos, constantes, de um animal adulto talvez, a julgar pelo som grave. No fundo não entendia nada de cachorros, mas sabia que aquilo incomodava, e isso era tudo. Além disso, havia o vento com chuva, ou seria chuva com vento? Que açoitava incessantemente a janela, outro barulho, outra distração. Pra completar, ainda havia a própria respiração! Queria sumir, mas achava que até nisso haveria barulho em algum momento.
Já não se lembrava da última vez que conseguiu enfim dormir tranquilo, se é que isso existe. Dormir tranquilo no sentido de ter uma hora fixa para enfim dizer “agora vou dormir” ou então “essa é a hora de deitar, boa noite!”. Não, seus dias tem sido intercalados com leituras até altas horas, quando não uma aventura dentro de uma filosofia de buteco, dessas que ou se presencia ou se cria mesmo não estando num, preferiria a última, por via das dúvidas. Assim resumiam-se suas noites, ao menos as últimas. E ainda achava que isso seria bom, do ponto de vista da escrita, mas ainda assim havia quem dissesse que aquilo fazia mal a pele.
Já não se lembrava da última vez que conseguiu enfim dormir tranquilo, se é que isso existe. Dormir tranquilo no sentido de ter uma hora fixa para enfim dizer “agora vou dormir” ou então “essa é a hora de deitar, boa noite!”. Não, seus dias tem sido intercalados com leituras até altas horas, quando não uma aventura dentro de uma filosofia de buteco, dessas que ou se presencia ou se cria mesmo não estando num, preferiria a última, por via das dúvidas. Assim resumiam-se suas noites, ao menos as últimas. E ainda achava que isso seria bom, do ponto de vista da escrita, mas ainda assim havia quem dissesse que aquilo fazia mal a pele.
O de sempre
Derreter memórias
E fazer
Então
Delas
Um belo colar
Daqueles
Daqueles que
Daqueles que duram
Duram
Duram
E duram.
Pra sempre?
Pra sempre.
Jura?
Juro.
E fazer
Então
Delas
Um belo colar
Daqueles
Daqueles que
Daqueles que duram
Duram
Duram
E duram.
Pra sempre?
Pra sempre.
Jura?
Juro.
19 de junho de 2009
O que me cerca
Nesse exato momento, um quarto com coisas velhas e outras nem tanto velhas porém desorganizadas. Parece que um tornado extra-tropical passou por aqui, quiçá um acampamento de guerra ou coisa do gênero. Papéis espalhados, roupas, calçados, coisas, dinheiros, documentos, aparelhos, fones de ouvido, cinzeiros tomados emprestados de boates, coleções incompletas, recordações de momentos bons, bilhetinhos, resquícios de xícaras de café, tubos com materiais subversivos, músicas de artistas falidos ou não, pra falar o mínimo. As únicas coisas que aqui seguem uma certa organização nesse espaço são os livros, os que estão na caixa blindada e aqueles que repousam sobre a prateleira empoeirada, livros sobre viagens, sobretudo. Diários sobre viajantes, profetas falidos, contos indecorosos, situações do cotidiano, bíblias profanas, dicionários alternativos, gramáticas não-patrícias, obras sobre transposição cultural. É um mosaico interessante, pra falar o mínimo desse lugar que também abriga uma cama, alguns cobertores e uma pessoa que invariavelmente habita esse espaço nem que seja para dormir, tomar um café (como nesse momento), ouvir uma música de qualidade na companhia de seus amigos (que são imaginários, a grande maioria) e ainda, desfrutar de um belíssimo conhaque, oferecido pelo bar. O bar esteve mais bem servido anos atrás, porém, aos poucos seus clientes foram embora devido à crise econômica, mas há planos de se implantar um coffee shop, plano antigo, é verdade, mas que ainda não saiu do papel.
12 de junho de 2009
Amor de plástico
- Você me ama?
- Sim, muito.
- E porquê nunca diz?
- Eu esqueço.
- Então diga agora.
- Ué, eu te amo.
- Mais entusiasmo...
- EU TE AMO!
- Tá. Lembra de quando nos conhecemos?
- Sim, claro, muito.
- Tantas mulheres, como me escolheu? Sinceramente.
- Sinceramente? Olha, era a mais bonita, e tinha um belo par de pernas.
- E agora? O que te faz ainda estar comigo?
- Continua a mais bonita, e com pernas ainda mais bonitas.
- Obrigada, amor. E o que mais?
- É difícil encontrar uma mulher com um belo par de pernas que não vê a grosseria e a estupidez por trás de minhas sutilezas.
- Sim, muito.
- E porquê nunca diz?
- Eu esqueço.
- Então diga agora.
- Ué, eu te amo.
- Mais entusiasmo...
- EU TE AMO!
- Tá. Lembra de quando nos conhecemos?
- Sim, claro, muito.
- Tantas mulheres, como me escolheu? Sinceramente.
- Sinceramente? Olha, era a mais bonita, e tinha um belo par de pernas.
- E agora? O que te faz ainda estar comigo?
- Continua a mais bonita, e com pernas ainda mais bonitas.
- Obrigada, amor. E o que mais?
- É difícil encontrar uma mulher com um belo par de pernas que não vê a grosseria e a estupidez por trás de minhas sutilezas.
31 de maio de 2009
Piadela
Aposto que era um gracejo, pois ele afinal não era religioso, tampouco místico ou supersticioso, e obviamente sentia-se superior por isso, feito todos os céticos, os universitários inglesinhos, os modernosos e os vanguardistas, que estão na camada acima das crendices populares, dos ditados, dos chás de ervas pro figueiredo e do horóscopo.
Então, logo depois de descarregar as coisas, acendeu um cigarro e foi encontrar um grupo de conhecidos, e tão logo quanto ganhou a luz fez tom de solenidade, ajoelhou-se, calculou de prévia mais ou menos o que iria dizer em segunda pessoa pra não tropeçar nas conjugações, empostou a voz e levantou os braços:
- Ó deus, tu que és piadista, rancoroso e vingativo, que tens poder criador e matador sobre a terra, que tens controle sobre essa nossa colônia de formigas, que brinca de dilúvio, que tens o fogo nas mãos, espada branca e canela fina, que tens enorme barba e entendes tudo de biologia, de Hegel, matemática e filosofia moderna, ouça minhas humildes e rústicas preces, que imploram vossa autorização pra que eu me divirta uma noite só, só essa, só hoje. Uma.
Autorizo-vos a cobrir com as trevas que vos dá tanto divertimento todos os próximos dias da minha vida depois dessa noite de prazer.
Depois concluiu, só de sacanagem, com "juro por deus."
Meia hora foi o tempo de demorou pro primeiro trovão, e sem nenhum exagero, choveu de enroscar carro e entortar guarda-chuva por seis dias, sem qualquer intervalo.
Cada classe de coisas que havia, pouco ou muito, molhou; bolo de cenoura, cabelos de Bowie, organizadores, roupas, cabos e mesas de som, decorativos e romances, e como não estavam na década de 70 o festival acabou tendo que ser cancelado.
Então, logo depois de descarregar as coisas, acendeu um cigarro e foi encontrar um grupo de conhecidos, e tão logo quanto ganhou a luz fez tom de solenidade, ajoelhou-se, calculou de prévia mais ou menos o que iria dizer em segunda pessoa pra não tropeçar nas conjugações, empostou a voz e levantou os braços:
- Ó deus, tu que és piadista, rancoroso e vingativo, que tens poder criador e matador sobre a terra, que tens controle sobre essa nossa colônia de formigas, que brinca de dilúvio, que tens o fogo nas mãos, espada branca e canela fina, que tens enorme barba e entendes tudo de biologia, de Hegel, matemática e filosofia moderna, ouça minhas humildes e rústicas preces, que imploram vossa autorização pra que eu me divirta uma noite só, só essa, só hoje. Uma.
Autorizo-vos a cobrir com as trevas que vos dá tanto divertimento todos os próximos dias da minha vida depois dessa noite de prazer.
Depois concluiu, só de sacanagem, com "juro por deus."
Meia hora foi o tempo de demorou pro primeiro trovão, e sem nenhum exagero, choveu de enroscar carro e entortar guarda-chuva por seis dias, sem qualquer intervalo.
Cada classe de coisas que havia, pouco ou muito, molhou; bolo de cenoura, cabelos de Bowie, organizadores, roupas, cabos e mesas de som, decorativos e romances, e como não estavam na década de 70 o festival acabou tendo que ser cancelado.
19 de maio de 2009
Alter Tango
Nas noites quentes
Da sorridente cidade
Memórias te procuram
Invadem os bares
Vasculham os belos pares
Como se fingir fosse perder
Seguro só
Algo que não se pode ter
Só seguro
Pelos cabelos
Repouso, calmo
No eterno zelo
Discreto...
De seus pêlos
Da sorridente cidade
Memórias te procuram
Invadem os bares
Vasculham os belos pares
Como se fingir fosse perder
Seguro só
Algo que não se pode ter
Só seguro
Pelos cabelos
Repouso, calmo
No eterno zelo
Discreto...
De seus pêlos
24 de abril de 2009
Inês-plicável
Numa de tropeçar
Acabou que caiu
Caiu em mim
Com mãos de lenda
Nos braços a maior vista tempestade
Disse querer algo que não se pode ter
E eu então-portanto,
Tampouco,
Posso dar.
Noutra de partir se foi
Tanto faz, só se foi
E sem despedida.
Foi?
Foi.
Acabou que caiu
Caiu em mim
Com mãos de lenda
Nos braços a maior vista tempestade
Disse querer algo que não se pode ter
E eu então-portanto,
Tampouco,
Posso dar.
Noutra de partir se foi
Tanto faz, só se foi
E sem despedida.
Foi?
Foi.
21 de abril de 2009
Mais um tango, e outro trago
Me leve, mas não assim, só pela mão
Pois agora beibe, pra fazer, sobra pouco
Perodeixa, deixa de e pra todo-tanto acaso
Arrisco, sorrio, finjo, ouso dizer que vá
E digo mesmo, pois que suma!
Que voe, talvez volte
De propósito
Insisto um tanto faz
Pra hoje ainda aguento
Mais um tango, e outro trago
Embora amanhã?
Sim, embora, amanhã eu morro.
Pois agora beibe, pra fazer, sobra pouco
Perodeixa, deixa de e pra todo-tanto acaso
Arrisco, sorrio, finjo, ouso dizer que vá
E digo mesmo, pois que suma!
Que voe, talvez volte
De propósito
Insisto um tanto faz
Pra hoje ainda aguento
Mais um tango, e outro trago
Embora amanhã?
Sim, embora, amanhã eu morro.
18 de abril de 2009
9 de abril de 2009
A janela e os desencontros

A vida é, na verdade, a arte de endurecer.
Que venham os desencontros, todos, até de uma vez, pois em casa de malandro vagabundo não põe a cara na janela.
Puto, fica com a janela pra você.
19 de março de 2009
Sugira o título pelo comentário
Sim, são sonhos
Mas não
Não, não mais
(mais)
Não mais meus
Agora com essa calma
Do rei, do bedel, também juiz
Em faz-de-conta que termina assim
Vou Joãozinho
Esquecendo sem querer
Cada memória
Pelo caminho
Mas não
Não, não mais
(mais)
Não mais meus
Agora com essa calma
Do rei, do bedel, também juiz
Em faz-de-conta que termina assim
Vou Joãozinho
Esquecendo sem querer
Cada memória
Pelo caminho
25 de fevereiro de 2009
Tivesse me feito chorar
Você disse que iria comigo ouvir choro, portanto, me deve um choro.
Chorar é uma prova de que se está vivo, que tem motivos, que ainda não secou feito os que andam secos por aí, vivendo de maneira tão impessoal, beijando e apertando mãos por vaidade.
Queria que tivesse me feito chorar.
Chorar é uma prova de que se está vivo, que tem motivos, que ainda não secou feito os que andam secos por aí, vivendo de maneira tão impessoal, beijando e apertando mãos por vaidade.
Queria que tivesse me feito chorar.
3 de fevereiro de 2009
18 de janeiro de 2009
PUTAQUEPARIU DE MERDA DO CARRALHO CUZIDO
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MAIS LUZ
6 de janeiro de 2009
Apendicite aguda.
Do meu peito
Nascem braços
(um de cada lado)
onde brotam dedos
reféns do meu apego
ponto final do meu corpo
com cinco pedacinhos
que crescem devagarinho
pra levar á minha boca
aquela carne moída.
Na falta dela
vai unha roída.
Nascem braços
(um de cada lado)
onde brotam dedos
reféns do meu apego
ponto final do meu corpo
com cinco pedacinhos
que crescem devagarinho
pra levar á minha boca
aquela carne moída.
Na falta dela
vai unha roída.
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