10 de fevereiro de 2010

Uma cena

Chega feito uma pedra com pernas, mudo, de passo tenso e determinado, descarregando o peso dos bolsos e dos apertos de mão no lugar de apoiar as coisas da rua.

Acende a luz, pra procurar na sala alguma maneira de perder logo que pode seus primeiros minutos de tempo livre do dia, e a cena é a mais absurda de todas as cenas absurdas, de todos os dias.

- Porra bicho!

Ele só sorri, calmo e dominador.

- Olha tua situação filho da puta!

Sorri mais, de tão fudido.

- Tava sozinho?

- Mais ou menos.

- Como mais ou menos! A porta ficou trancada e levei a chave!

- Estive com minhas ideias. Mas elas foram tomando tanto corpo queeeeeee eee eee saíram por aí, pralgum lugar nessa casa que não sei qual é, dobrando as esquinas desse lugar cheio de vontades próprias, rindo dos buracos mortos das paredes celulíticas, dessa casa que já foi, talvez, uma Brigitte Bardot...

Acontecendo ali, em sua frente, uma prova, de que por mais esforço que faça o impossível ainda está descontrolado, e ainda é forte, imperativo e possível.

- Puta que pariu, não boto fé que tomou quase um litro de conhaque, e sozinho.

- Tomei com limão -, e sorri de novo.

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