24 de junho de 2009

Insônia...

Dormir, era o que ele queria. Porém ouvia latidos a distância, ininterruptos, constantes, de um animal adulto talvez, a julgar pelo som grave. No fundo não entendia nada de cachorros, mas sabia que aquilo incomodava, e isso era tudo. Além disso, havia o vento com chuva, ou seria chuva com vento? Que açoitava incessantemente a janela, outro barulho, outra distração. Pra completar, ainda havia a própria respiração! Queria sumir, mas achava que até nisso haveria barulho em algum momento.
Já não se lembrava da última vez que conseguiu enfim dormir tranquilo, se é que isso existe. Dormir tranquilo no sentido de ter uma hora fixa para enfim dizer “agora vou dormir” ou então “essa é a hora de deitar, boa noite!”. Não, seus dias tem sido intercalados com leituras até altas horas, quando não uma aventura dentro de uma filosofia de buteco, dessas que ou se presencia ou se cria mesmo não estando num, preferiria a última, por via das dúvidas. Assim resumiam-se suas noites, ao menos as últimas. E ainda achava que isso seria bom, do ponto de vista da escrita, mas ainda assim havia quem dissesse que aquilo fazia mal a pele.

O de sempre

Derreter memórias

E fazer
Então
Delas
Um belo colar

Daqueles
Daqueles que
Daqueles que duram
Duram
Duram
E duram.

Pra sempre?
Pra sempre.
Jura?
Juro.

19 de junho de 2009

O que me cerca

Nesse exato momento, um quarto com coisas velhas e outras nem tanto velhas porém desorganizadas. Parece que um tornado extra-tropical passou por aqui, quiçá um acampamento de guerra ou coisa do gênero. Papéis espalhados, roupas, calçados, coisas, dinheiros, documentos, aparelhos, fones de ouvido, cinzeiros tomados emprestados de boates, coleções incompletas, recordações de momentos bons, bilhetinhos, resquícios de xícaras de café, tubos com materiais subversivos, músicas de artistas falidos ou não, pra falar o mínimo. As únicas coisas que aqui seguem uma certa organização nesse espaço são os livros, os que estão na caixa blindada e aqueles que repousam sobre a prateleira empoeirada, livros sobre viagens, sobretudo. Diários sobre viajantes, profetas falidos, contos indecorosos, situações do cotidiano, bíblias profanas, dicionários alternativos, gramáticas não-patrícias, obras sobre transposição cultural. É um mosaico interessante, pra falar o mínimo desse lugar que também abriga uma cama, alguns cobertores e uma pessoa que invariavelmente habita esse espaço nem que seja para dormir, tomar um café (como nesse momento), ouvir uma música de qualidade na companhia de seus amigos (que são imaginários, a grande maioria) e ainda, desfrutar de um belíssimo conhaque, oferecido pelo bar. O bar esteve mais bem servido anos atrás, porém, aos poucos seus clientes foram embora devido à crise econômica, mas há planos de se implantar um coffee shop, plano antigo, é verdade, mas que ainda não saiu do papel.

12 de junho de 2009

Amor de plástico

- Você me ama?
- Sim, muito.
- E porquê nunca diz?
- Eu esqueço.
- Então diga agora.
- Ué, eu te amo.
- Mais entusiasmo...
- EU TE AMO!
- Tá. Lembra de quando nos conhecemos?
- Sim, claro, muito.
- Tantas mulheres, como me escolheu? Sinceramente.
- Sinceramente? Olha, era a mais bonita, e tinha um belo par de pernas.
- E agora? O que te faz ainda estar comigo?
- Continua a mais bonita, e com pernas ainda mais bonitas.
- Obrigada, amor. E o que mais?
- É difícil encontrar uma mulher com um belo par de pernas que não vê a grosseria e a estupidez por trás de minhas sutilezas.