28 de abril de 2010

Cut-up I


Pequeno cut-up de escritos retirados da Bandeja Nômade, um projeto falido que ainda resiste, sem a parceria da UNESCO e da Rede Globo¹

Num desses dias entrou na sala, ouviu o galo cantar e lá pelas tantas já não sabia o que fazer para continuar lá. [... ] Sorriu e bebeu mais um gole. E mais um dia na terra do absurdo estava começando. [...] Suas opções para uma boa conduta social se esgotavam, uma a uma. E o que fazia bem já desistia de achar que podia ou que era capaz. Inclusive o que lhe dava prazer, o que lhe alegrava, no fundo não lhe dava motivos a continuar fazendo. Estava eternamente insatisfeito. [...] Enquanto todos procuravam se agarrar a uma certeza, ele, ainda, vivia numa proposta de constante incerteza. Agarrava o absurdo como quem se agarra a uma bóia, ou seja, a todas as outras coisas que não são possivelmente certas ou canônicas. [...] Aí está, ele não quer uma certeza, ou segurança, apesar de achar que isso lhe levará a morte como individuo. [...] Tudo o que acumulou ao longo do tempo, conhecimento, seria inútil sem aplicação. E é o que percebe hoje, não só consigo mesmo. [...] Pretende se anular como indivíduo, viver do jeito que não agregue qualquer responsabilidade para com o futuro, ou qualquer outra coisa. [...] Procura viver com um mínimo possível. Percebeu que pode ter o que quiser, sem ao mesmo tempo não ter absolutamente nada. [...] Questões que extrapolam a dimensão ecológica de sua sociedade interior levam-no a um palácio cujos ladrilhos seriam aqueles que são guiados pelo caminho do excesso. Blake nunca fez tanto sentido em sua vida. Se sentiu feliz, viu a luz do sol lá fora, viu que nada mais fazia sentido. [...] É impossível manter a seriedade e não conseguir deixar de falar daquilo que realmente importa, aliás, é importante não deixar de falar das coisas que importam. Isso deveria ser uma virtude, deveria. Não o é por uma série de motivos. [...] São raros os que conseguem imaginar essa realidade, e interação. O desapego, a virtude máxima aqui personificada vem de uma motivação que não me é, somente familiar. [..] Sair de uma condição homogeneizante, que agrega dimensões totais, que buscam a transformação e realização de um padrão é por demais necessária. [...] É viver um todo e não numa parte. É saber da onde as coisas vem, e porque vem. É daqui que vem o meu desprezo geral a toda uma forma de alienação acrítica. Se é pra ser alienado que se saiba porque. [...] Isso sim é fabricado, pois não se cria uma sociedade que se tenha o conhecimento, pois isso implica numa desestrutura que não se aplica a um status quo politicamente almejado. [...]

¹ parafraseando a vinheta do Criança Esperança

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